A reputação da Enel tem salvação? Agora parece que não, mas ela vem sendo colocada à prova todos os anos na época de chuvas, com efeitos catastróficos na vida de centenas de milhares (e até milhões) de moradores de São Paulo. Na última sexta-feira, um vendaval de poucos minutos derrubou árvores por toda a cidade, causou pelo menos sete mortos e deixou quase dois milhões de pessoas sem luz.
Há quase um ano, no dia 3 de novembro de 2023, São Paulo sofreu um dos maiores apagões de sua história, decorrente de uma tempestade que derrubou centenas de árvores, que por sua vez caíram em cima de milhares de cabos de energia pendurados nos postes. Exatamente como agora. Como muitas cidades brasileiras, o sistema de distribuição de energia elétrica de São Paulo é quase todo feito por postes, que entrecruzam galhos de árvores em diversos trechos. Mais de dois milhões de pessoas ficaram vários dias sem luz, afetando o comercio, indústrias, escolas e até hospitais.
Na época, CEO da Enel, o italiano Nicola Cotugno, se manifestou por meio de nota oficial e culpou os ventos pelo problema. Nenhuma palavra pedindo desculpas à população (ele foi demitido em 23 de novembro). Este episódio é contado em detalhes em meu livro “Reputação empresarial – Armadilhas e desafios na gestão da imagem corporativa”, publicado este ano pela Matrix Editora.
Isso vai se repetir agora?
Se sim, então a Enel não aprendeu nada sobre gestão de imagem e reputação. Não trabalhou na origem do problema, não fez campanhas públicas de prevenção, não se mobilizou para liderar uma discussão sobre a necessidade de aterrar fios e, ao que parece, não aumentou o número de funcionários e equipes dedicadas para trabalhar em situações de emergência.
Na mira das autoridades e enxovalhada pela opinião pública, a Enel mostra que prestar um serviço essencial à população exige muito mais do que apenas conquistar a concessão. Desconsiderar esse fator coloca como vítima maior, depois de obviamente seus pobres consumidores, sua frágil e cambaleante reputação.